Elroucian Motta
Acadêmico Correspondente - Cadeira 104
Elroucian Motta é servidor público, escritor, poeta, revisor de textos e tradutor.
Natural de Porto Alegre/RS e graduado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tem diversas premiações em certames literários pelo país, tanto em poesia quanto em prosa. Possui livro de poemas publicado e participação em várias coletâneas e antologias. É membro da Sociedade Partenon Literário, da Academia de Letras do Brasil - Seccional Rio Grande do Sul (ALB-RS), da Academia Mundial de Cultura e Literatura (AMCL), da Academia Internacional de Artes, Letras e Ciências “A Palavra do Século 21” (ALPAS-21) e da AIAP (Academia Intercontinental de Artistas e Poetas).
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Rumores
Há rumores de romantismo...
Neste Jardim das Hespérides pós-moderno
por onde circulam homens de gravata
em camisas de colarinho bem passado
e jornais trazem os últimos enfoques
econômicos e políticos,
onde esquematizam-se tarefas diárias
bem delineadas e sempre iguais
e cumprem-se horários e afazeres com ódio e alívio.
Há rumores de romantismo...
No porteiro que atende às pessoas
mecanicamente e se chama José,
nas recepcionistas risonhas e nos funcionários públicos
mal-humorados em guichês de atendimento,
na inconsolável caixa do supermercado que rompeu
o namoro de seis meses com o motoboy da firma
de materiais de escritório,
na tragédia social de moradores de rua e seus olhares desconfiados,
nos arredores das esquinas mais movimentadas do centro da capital,
nas livrarias, nos cafés, nos restaurantes, nas "carrocinhas"
de lanches, na florista de cemitério, nos bebedores de cerveja
em intervalos de serviço e nos ébrios de plantão em sórdidos botequins.
Há rumores de romantismo...
Nas alamedas arborizadas de elegantes bairros tradicionais
e nos becos de chão batido de periferias esquecidas,
nas prostitutas de esquinas sombrias e malcheirosas,
nos muros e paredes de prédios pichados,
na fala fácil e sorriso solto de estressados donos de
empreendimentos comerciais,
na vasta arrogância de poderosos industriais,
na coluna social de importantes jornais por onde desfilam
damas e cavalheiros bem-apessoados e bem-trajados,
risonhos em sua magnitude de seres humanos bem-
sucedidos, mas sujeitos às mesmas necessidades fisiológicas
e naturais do vira-latas da rua,
nas escolas, nos prédios residenciais, nas praças,
nos parques, nas crianças que brincam indiferentes
às agruras da existência,
no vendedor de pipocas, no camelô e sua barraca
abarrotada de bugigangas, no entregador de
folhetos de propaganda, no artista de rua.
Há rumores de romantismo...
Nos ônibus lotados dos subúrbios,
na correria (quase) sem sentido de apressados e honestos
trabalhadores e sonolentos estudantes,
nas longas avenidas divididas em quarteirões,
nos garis com seus uniformes de cores fortes,
nos pedreiros, nos mecânicos, nos artesãos, nas empregadas
domésticas, nas atendentes de loja, nos motoristas de táxi,
nos chafarizes das praças e nos odores do Mercado Central.
Há eternos rumores de romantismo...
Nas tristesses diárias,
no olhar sussurrante da moça apaixonada e esquiva,
no vento frio que fustiga o rosto do homem velho,
na peremptória melancolia dos sonhadores, dos artistas,
dos poetas, dos desiludidos, dos caminhantes sem rumo,
no soar inconstante e permanente da vida.
Rumores de romantismo...
Gemidos de auroras perdidas e auroras por vir.
Eternità.
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